Precisamos falar: Culto ao Corpo perfeito e Saúde Mental
- Sr. Andrade da Fonseca
- 9 de ago. de 2020
- 4 min de leitura

Olá a todos! Nesse novo texto, quero dar continuidade a um tema iniciado em meu vídeo que falo sobre depressão e suicídio na adolescência. Aqui quero dar mais ênfase a questão de como o culto ao corpo pode interferir na saúde mental de um adolescente.
Se você olhar em qualquer campanha de moda vai encontrar maioria de modelos magros com corpo atlético com um belo sorriso no rosto, essa imagem não é algo construído de agora, em minha perspectiva de formando em História, estudei que essa ideia de corpo perfeito assim vem desde antigamente já com a Grécia antiga, onde as estátuas retratavam homens e mulheres num padrão bem parecido com o que é apontado pelas atuais campanhas, inclusive, nem necessariamente campanhas de moda, um simples comercial de automóvel vai ter sempre um ator no mesmo "padrão" arquitetado na época grega.
Quando se vive num mundo assim, onde parece que o que é apenas aceito é quando se tem um corpo escultural (se fazendo valer das esculturas gregas nessa terminologia), o que pensar? E indo mais além, o que pensar quando você está moldando sua própria personalidade?
Se você, assim como eu, não se encaixa nesse padrão, que permeia quase todo o ideal da sociedade já deve ter se sentido em algum momento da sua vida fora do "padrão". E esse padrão quem cria? A verdade é que é a soma de vários fatores, mas em essência é pela própria moda, época ou cultura dando uma resumida na questão. É observável também que esse padrão apesar de antigo pode mudar de cultura para cultura. Por exemplo, aqui no Brasil, a ideia de beleza é mais pautada numa ideia de mulher estilo "Panicat", com coxas grossas, malhada, bronzeada, com bumbum maior e seios avantajados e a ideia de homem ideal é daquele que vive na academia e tem aspecto musculoso, mas se formos para uma cultura diferente esse padrão pode se modificar em alguns aspectos, mas quase sempre criando o estereótipo de cabelo liso, magra/magro, malhada/malhado e etc.

Quando você é adolescente ou pré-adolescente e está num momento de criar seus pensamentos isso pode ter um caráter tremendamente deletério para a mente, na sua saúde ou até no modo de tratar os outros, tanto na mente de de um menino ou menina pode criar bloqueios quanto ao que parece ser atraente e o que não parece, ainda assim é algo comum se não há desrespeito, mas em alguns casos há o estereotipamento por padrão quando alguém que não tem essas características acaba sendo descartado de um convívio social por aqueles que mais encaixam nesse ideal imaginário criado reforçando naquele que foi isolado a ideia de não pertencimento.
Esse isolamento aumenta a ideia desse alguém estar "errado", culpando a si como se estar fora desse padrão fosse uma maldição, isso na mente de uma criança pré-adolescente é completamente ruim e é aí que os problemas podem começar a acontecer como depressão, anorexia e no caso dos meninos que sonham com um corpo musculoso, a vigorexia.
Esse padrão não existe, é algo criado no imaginário coletivo e como disse, pode ser modificado de cultura para cultura.
Lembro-me de assistir um filme de Amacio Mazzaropi, que agora não me recordo o nome devido a sua extensa contribuição para o cinema brasileiro da época, onde retratava a figura do caipira de forma estereotipada, porém sabendo muito bem usar isso como critica ao homem da cidade, nesse filme provavelmente da década de 50 ou 60, ele organizava um desfile de moda, e nesse desfile o padrão era "plus size", não porque ele era um homem a frente do seu tempo, mas sim porque realmente naquela época o padrão da mulher era ter "os quilinhos a mais" que hoje são tão temidos. Ou seja, isso serve para demonstrar que o padrão varia de cultura e também de época, mas é igualmente deletério quando tratado como o único aceito pela sociedade.
Entramos então numa questão não só de beleza, mas de igualdade, onde todos os tipos de belezas são aceitos em todos os espectros e não somente um, onde há a beleza em tudo e partindo dessa frase que quero chamar a atenção para a mudança do pensamento que ocorre e se dissemina na sociedade atualmente, onde as campanhas de moda estão sabendo ser mais democráticas usando modelos variados sendo mais correto com a situação factual predominante.
Recentemente, como me foi relatado por um casal de amigos que moram nos Estados Unidos, houve uma campanha da Target e Nordstrom já antiga (e já vem acontecendo há algum tempo por lá), de roupas infantis que usaram como modelos crianças com síndrome de Down e outra de roupas femininas que usou modelos plus size, mulheres com estrias e que mostravam a imperfeição de seus corpos sem retoque de photoshop, e isso é sensacional, já que serve para sustentar a ideia de mudança de consciência no modo de enxergar das pessoas.

Aqui, no Brasil, recentemente, tivemos um caso que incluiu a Natura e o Ator Transexual, Thammy Miranda, em que ele fez o comercial de dia dos pais. A campanha foi um sucesso, e por mais que eu veja uma questão de palanque político para uma possível candidatura de Thammy como vereador por um partido considerado de direita com um certo receio, entendo a importância do efeito inclusivo da campanha que fez as ações da empresa bombar na bolsa de valores e colocar a discussão em vários lugares, sendo assim a questão da igualdade foi bem representada e eu vejo com bons olhos essa consciência das empresas esperando que mais empresas façam isso, não somente na questão de representatividade LGBT como nas questões ditas acima.
Como sempre, links de matérias e um vídeo referenciando o que eu falei: https://herviewfromhome.com/target-is-still-showing-stretch-marks-on-models-and-we-couldnt-be-happier/
Vídeo sobre ditadura da beleza: https://www.youtube.com/watch?v=2igmSurytzA
As matérias estão em inglês, mas dá para fazer a tradução automática com o Google
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